que árvores devo plantar?
Agora que você já entendeu o que é a crise climática e como as árvores podem nos ajudar na redução dos efeitos dessa, chegou a hora de organizar o plantio de árvores.
Para isso você talvez esteja se perguntando, qual as árvores mais adequadas para minha região?
Para responder a essa pergunta, vamos agora falar um pouco mais sobre os biomas brasileiros, entender como se forma uma floresta (a sucessão ecológica) e como selecionar as espécies de árvores para o seu projeto.
Vamos falar um pouco também sobre paisagismo florestal e formas de você criar um ambiente agradável aos olhos ...
1 - Biomas brasileiros
O Brasil possui seis principais biomas terrestres. Estes biomas são o agrupamento de um conjunto de espécies de flora e fauna - (fatores bióticos), que por sua vez foram sendo definidos por condições de clima, incluindo aí a chuva, temperatura, pressão atmosférica, radiação solar, umidade e ventos, mas também através do relevo e do solo, este último definido por suas condições químicas e físico-químicas - (fatores abióticos). Os biomas são também chamadas de regiões fitogeográficas que deixa clara a correlação entre a flora (fito = plantas) e uma região geográfica específica.
Os principais biomas brasileiros são Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal, conforme pode ser visto no mapa, da figura 01. Estes biomas por sua vez possuem subdivisões de acordo com suas variações climáticas e geológicas.
Figura 01 - Mapa de biomas do Brasil
Fonte: IBGE - https://pt.wikipedia.org/wiki/Biomas_do_Brasil
Os biomas brasileiros são o habitat de uma impressionante quantidade de espécies, o que torna no Brasil um dos países com a maior diversidade do mundo.
O quadro abaixo, figura 02, relaciona as espécies por bioma, mostrando que a Mata Atlântica e a Amazônia são os biomas com a maior diversidade. Devido a esta explosão de diversidade estes biomas são chamados de hotspots (pontos quentes) de biodiversidade.
Figura 02 – Quantidade de espécies por bioma.
Fonte: IBGE – https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/territorio/18307-biomas-brasileiros.html adaptado por Árvores pelo Clima
O Brasil é o pais com a maior diversidade de espécies de árvores do planeta e possui cerca de 8.715 espécies de árvores, sendo 4.333 endêmicas. Isso representa, 14,5 % das 60.065 que existem no planeta [1]. A título de comparação, a Europa toda, com seus 50 países, possui apenas 454 espécies de árvores. Esse número representa apenas as espécies conhecidas pela ciência, pois estima-se que somente na reunião amazônica, existam mais de 10 mil espécies de árvores. O problema é que 2.113 espécies brasileiras estão ameaçadas.
Cada um destes biomas evoluiu ao longo de bilhões de anos, sendo as árvores também uma consequência desta evolução. Assim as espécies vegetais foram se desenvolvendo e adaptando às condições de seu bioma, formando uma rica biodiversidade. Muitas destas árvores e plantas foram então se especializando, de forma que algumas somente existem em regiões específicas, o que chamamos de espécies endêmicas.
Quanto buscamos definir as árvores a serem utilizadas em nosso projeto de reflorestamento ecológico, devemos selecionar aquelas que ocorrem naturalmente nessa região, conhecidas como espécies nativas, e que, portanto, estão mais adaptadas às condições de clima e solo locais.
Naturalmente podemos utilizar também algumas espécies de árvores de outros países, chamadas de espécies exóticas, mas estas devem entrar em menor quantidade em nosso projeto de reflorestamento.
Existem diversas formas de identificar as árvores de cada bioma. Isso pode ser feito através da observação direta a campo, da pesquisa na internet, ou ainda da consulta a livros e especialistas. Em breve vamos publicar aqui no Árvores pelo Clima as listas de árvores dos biomas brasileiros.
Mas além de saber quais as árvores indicadas para a sua região você necessita saber também que elas devem ser plantadas em uma sequência, respeitando os processos naturais. Vamos falar sobre isso no próximo tópico.
2- Sucessão Ecológica
Como se forma uma floresta?
Talvez você tenha se perguntado, como se forma uma floresta? Se queremos reflorestar áreas urbanas ou rurais, deveríamos conhecer e tentar reproduzir a forma que a natureza aperfeiçoou ao longo de bilhões de ano de evolução para criar novas florestas.
Para aprendermos como se forma uma floresta e como reproduzir estes processos naturais, temos que entender o conceito de sucessão ecológica.
A sucessão ecológica é a forma de colonização gradual de um ecossistema, através de uma sequência de diversas espécies, desde aquelas mais rústicas e com menores exigências em termos de nutrientes, chamadas de espécies pioneiras, até aquelas de maior porte e maior nível de exigência de nutrientes, chamadas de espécies clímax.
Neste processo, as espécies pioneiras vão ajudando a preparar as condições de microclima e nutrientes do solo, para o estabelecimento das espécies da comunidade clímax. Este processo é dinâmico as espécies vão se sucedendo (dia o nome de sucessão ecológica), uma as outras, até que o ecossistema alcance o seu equilibro. Na verdade, esse processo de transição ecológica é composto por 3 grupos de espécies:
-
espécies pioneiras
-
espécies secundárias iniciais
-
espécies secundárias tardias
-
espécies clímax
Quando desenvolvemos um projeto de reflorestamento ecológico, devemos levar em conta estes estágios, e selecionar as espécies de cada grupo, que serão plantadas na sequência dos estágios de sucessão ecológica descritos, ou seja, inicialmente as árvores pioneiras, sendo seguidas das secundária e finalmente as clímaxes.
O papel das espécies de árvores pioneiras é principalmente o de preparam as condições adequadas e favoráveis para o crescimento das espécies clímaxes, gerando sombra, umidade, proteção contra o vento, reduzindo extremos de temperatura, melhorando condições de fertilidade do solo através do acúmulo da matéria orgânica, necessárias para as espécies clímax, que geralmente são mais exigentes e sensíveis ao sol pleno, calor e terrenos muito secos. A medida que as espécies vão se estabelecendo, aumenta a complexidade, a biodiversidade e a longevidade do ecossistema e reduz-se a variabilidade das condições ambientais.
Esses processos ocorrem naturalmente, de forma lenta, entre 30 a 60 anos. Entretanto nosso objetivo ao desenvolvermos nossos projetos de reflorestamento ecológico é o de acelerar este processo, de forma que possamos estabelecer uma floresta densa em um período de 10 a 15 anos.
Se levarmos em conta a sucessão ecológica no desenvolvimento dos projetos de reflorestamos, não somente estamos mimetizando os processos naturais, mas aumentamos muito a chance de nosso projeto ser bem-sucedido, seja acelerando o crescimento, mas também evitando a morte de mudas de árvores que plantamos.
Além disso, os projetos de reflorestamento ecológico têm uma característica essencial que é a de criar ecossistemas com a maior biodiversidade de espécies possível. Assim, ao invés de plantarmos uma só espécie de árvore, como ocorre nas monoculturas para fins comerciais (ex: pinus ou eucaliptos), nesses projetos têm como o objetivo o restabelecimento da biodiversidade e do equilíbrio ecológico. A biodiversidade aumenta muito a resistência e longevidade destas florestas, se comparadas com as monoculturas comerciais, que são sujeitas à diversas pragas e doenças.
Figura 03 – Sucessão ecológica de florestas
3 - Características dos Grupos de Sucessão Ecológica [3][4]
A tabela abaixo resume as características dos 4 grupos de sucessão ecológica. Embora a fronteira entre um grupo sucessional e o outro não seja as vezes tão clara, a tabela abaixo apresenta as suas principais características mais significativas.
figura 04 - Tabela de características de grupos de sucessão ecológica
4- Seleção das espécies para maior biodiversidade
Como já explicado acima, os projetos de reflorestamento ecológico têm como objetivo o restabelecimento da biodiversidade e neste sentido, muitas vezes são plantadas mais de 100 espécies distintas.
Esta biodiversidade de árvores é necessária também, pois a floresta deve também servir de abrigo e alimento para espécies animais e, portanto, devemos também incluir na lista de espécies plantadas, frutíferas nativas, que irão atrair e sustentar a fauna. Fauna e flora, estabelecem assim uma simbiose, na qual as árvores geram alimentos para os animais e estes, por sua vez, ajudam a propagar a sementes das árvores, multiplicando assim o efeito do reflorestamento feito pela mão humana. A medida em que cresce a biodiversidade e a complexidade do ecossistema, vai formando-se uma rede complexa nas cadeias alimentares e de simbioses, uma teia de vida cada vez mais sofisticada.
Agora que você está começando a entender como planejar as espécies do seu projeto, vemos dar uma ajuda com alguns números.
Em projetos de reflorestamento ecológico existem algumas proporções que devem ser mantidas entre os diversos grupos sucessionais de os tipos de espécies. Seguem abaixo alguns números que poderão servir de guia para seu projeto.
Quanto aos grupos sucessionais:
-
Pioneiras: mínimo de 40%
-
Secundárias: cerca de 40%
-
Clímax: cerca de 20%
Quantos às espécies:
a) Frutíferas nativas (espécies dispersadas por animais)
Proporção: Cerca de 20%
Exemplos: aguaí, araçá, araticum, bacupari, cambuçá, grumixama, guabiroba, guamirim, ingá, jabuticaba, pitanga, sapucaia, tucaneiro, uvaia, etc.
b) Espécies endêmicas do bioma local
Proporção: cerca de 20%
Exemplos: de acordo com o bioma no qual está sendo implantado o projeto de reflorestamento.
c) Espécies nativas ameaçadas, vulneráveis ou raras
Proporção: mínimo de 5%
Exemplos: araucária, braúna, canela-preta, canela-sassafrás, cedro-rosa, imbuia, jacarandá-da-bahia, jequitibá-branco, jequitibá-rosa, pau-brasil, peroba, etc.
d) Palmeiras Nativas do bioma local (quando existentes no bioma originalmente)
Proporção: cerca de 10%
Exemplos: acaí, baruri, buriti, carnaúba, guariroba, indaiá, juçara, macaúba, pupunha, tucumã, etc.
Importante destacar, em se tratando de projetos de reflorestamento ecológico, que nenhuma espécie isolada deve exceder 20% do do total indivíduos do plantio [2].
FONTES:
[1] https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/10549811.2017.1310049?journalCode=wjsf20
[2] https://www.cetesb.sp.gov.br/licenciamento/documentos/2006_Res_SMA_58.pdf
[3] Almeida, D S. Alguns princípios de sucessão natural aplicados ao processo de recuperação
[4] Luiz Fernando Duarte de Moraes ...[et al.] Manual técnico para a restauração de áreas degradadas no Estado do Rio de Janeiro / Rio de Janeiro : Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 2013