O gênero Homo, surgiu na África há cerca de 2,5 milhões de anos. O ser humano moderno surgiu há cerca de 200 mil anos. Ao longo desta história, a humanidade evoluiu em estreita relação de dependência das florestas, sempre generosas em fornecer, abrigo, alimento e energia.
Se considerarmos que a urbanização da humanidade passou a ocorrer apenas após a primeira Revolução Industrial, a partir de 1800, verificamos que a humanidade viveu apenas 0,1% de sua história em ambientes urbanos e os restantes 99,9% em estreita interação e conexão com os ambientes naturais. Desta forma, ambientes urbanos artificiais são extremamente novos em termos de evolução para os seres humanos.
O Japão possui cerca de 2/3 de sua área total coberta por florestas, sendo o 18º país do mundo com maior percentual de área florestada. Os japoneses desenvolveram uma longa e estreita relação com as florestas e a natureza. Originalmente eram adeptos do Xintoísmo, uma prática espiritual que cultua a natureza e reverencia os espíritos (kami) em seres inanimados e ambientes naturais, como montanhas, vales, árvores, florestas, rios, lagoas, mares, rochas e ventos. A chegada posterior de outras religiões como o Budismo e o Taoísmo, contribuiu com novos elementos para o convívio harmônico e a reverência à natureza.
Em 1982, preocupada com as elevadas e crescentes taxas de stress de trabalhadores japoneses, a Agência Florestal Japonesa começou a incentivar pesquisas sobre efeitos na saúde humana causados pelo contato com as florestas. A partir daí, desenvolveram-se inúmeras pesquisas sobre os efeitos terapêuticos desse contato que foram se consolidando e criando o corpo de uma terapia chamada de Shinrin (floresta) Yoku (banho, imersão), o “banho de floresta” ou “imersão na floresta”.
A partir da 1990, os médicos Yoshifumi Miyazaki, da Universidade de Chiba do Japão, Qing Li, da Nippon Medical School, em conjunto com outros pesquisadores, passaram a estudar e publicar pesquisas sobre os benefícios desta terapia.
Estas pesquisas constataram que, a imersão do indivíduo no ambiente florestal, mesmo que por poucos dias, ajuda a restabelecer a saúde, principalmente através da redução do stress, mas também pelo contato com substâncias voláteis exaladas pelas árvores (óleos essenciais), que auxiliam na recuperação do equilíbrio e imunidade do organismo.
Em 2004 , novos investimentos em pesquisas, permitiram a ampliação dos estudos relacionados a estes benefícios.
A partir daí, os estudos mais aprofundados começaram a revelar, por exemplo, a redução de 13% da concentração do hormônio cortisol, redução de 68% na concentração de adrenalina na urina e 18% de redução da atividade do sistema nervoso simpático, relacionado às respostas de luta e fuga em situações de stress, como consequência da terapia.
Por outro lado, esse contato com a floresta aumentou em 56% a atividade do sistema nervoso parassimpático, responsável pelo relaxamento, repouso e recuperação do organismo. A consequência direta disso é a redução de 6% da frequência cardíaca e de 2% na pressão sanguínea.
Mas os benefícios não param aí. Além da redução do stress e melhoria da condição cardíaca, o banho de floresta também aumenta a imunidade dos “pacientes”. Com apenas 2 dias da terapia, a atividade das células NK (Natural Killers), que fazem parte de nosso sistema imunológico, saltou de cerca de 18% para 26%. Esse aumento da atividade das células NK perdurou nos participantes da pesquisa por 30 dias após o contato com a floresta.
O contato com a floresta também apresentou efeitos terapêuticos nos casos de alergias e doenças respiratórias.
Além dos efeitos físicos, foram identificados também benefícios psicológicos. As pessoas se tornam mais calmas e reflexivas e aumentam sua capacidade de concentração e recuperam sua memória. A redução da ansiedade e da depressão foi identificada como consequência adicional importante deste contato com a floresta.
As causas destes benefícios ainda estão sendo estudadas. Dentre elas o silêncio, a maior conexão com os sentidos, o ar puro, um ambiente psicologicamente pacífico e esteticamente belo, até as substâncias voláteis exaladas pelas árvores (óleos essenciais). Vários modelos teóricos tentam explicar os mecanismos terapêuticos, mas indução ao relaxamento e consequente recuperação do sistema imunológico parecem ser a principal causa dos efeitos, uma vez que o stress é o grande causador de inúmeras doenças da vida moderna e urbana.
Desta maneira, aumentando a imunidade e a melhoria do funcionamento geral do organismo, o Shinrin-Yoku, demonstrou-se como uma eficiente terapia preventiva, inclusive para a prevenção do câncer. O aumento geral do vigor e energia é reportado de forma consistente pelos participantes das pesquisas.
A verdade é que o contato com a beleza da floresta, o canto dos pássaros, o perfume das árvores, o murmurar dos riachos, a alegria das flores, a textura dos musgos, remete o indivíduo a uma condição de relaxamento e paz interior capazes de gerar diversos benefícios para a saúde, física e emocional, bem como melhorar significativamente nossa qualidade de vida.
Talvez os povos tradicionais, ao tratarem as florestas como sagradas, intuíssem estes benefícios, passando este conhecimento de geração em geração. Mas a modernidade, sempre implacável como a tradição, levar ao esquecimento e perda de conhecimentos importantes.
Shinrin-Yoku é um mais um serviço ambiental prestado pelas floresta, recentemente descoberto, mostrando novamente e de forma surpreendente, a importância da manutenção de ambientes florestais para nosso bem-estar e qualidade de vida.
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