Como a pandemia do coronavírus, derrubou a poluição atmosférica no mundo e como podemos fazer melhor após a saída da crise.
FONTE: CNN [1]
De repente, em um espaço de tempo de menos de 3 semanas, o mundo parou em função da pandemia do coronavírus. Aeroportos foram fechados, indústrias pararam de funcionar, centenas de milhões de pessoas ficaram confinadas em casa, com seus carros na garagem. Transportes urbanos foram drasticamente reduzidos. Um lockdown de escala global.
Algo que não passava pela cabeça dos ecologistas mais radicais, nem em seus sonhos mais delirantes, aconteceu. Simplesmente. Sem que as pessoas tivessem tempo de discutir, entrar em polêmicas e infindáveis discussões. Não houve tempo para analisar alternativas ou para discutir os trade-offs, as perdas associadas com as escolhas. Simplesmente aconteceu. O mundo parou por causa de um ser microscópico, invisível a olho nu.
E, também de forma surpreendente, começamos a perceber que o ar das cidades ficou menos poluído.
Centros de pesquisa e monitoramento da poluição em todo o mundo, assombrados, começaram a ver os níveis de poluição despencar. As emissões de dióxido de carbono provenientes da queima de combustíveis fósseis foram drasticamente reduzidas, principalmente pelo fato de que grande parte dos transportes, urbanos, regionais e internacionais ser movida à combustíveis fósseis. Além disso, a redução da atividade das indústrias também representou um redução adicional de CO2 atmosférico.
No norte da Índia, após 5 semanas de lockdown, a poluição atmosférica voltou aos níveis de 20 anos atrás [1]. Na China, as emissões de carbono caíram cerca de 25% entre março e abril deste ano, em relação ao mesmo período de 2019, o equivalente a 250 milhões de toneladas de carbono. Na Europa, espera-se uma queda de emissão de 400 milhões de toneladas de carbono neste ano, devido à drástica redução do transporte e da desaceleração da indústria [2][3]. Estamos vivenciando a maior queda nas emissões de carbono desde a 2ª Guerra Mundial, como apresenta o gráfico abaixo.
Figura 01 – Redução das emissões de carbono como resultado da pandemia do coronavírus
Fonte: The Guardian [4]
Claro que não há motivo para celebrar uma tragédia sanitária, econômica e social de escala global como o coronavírus. Mas certamente temos muito que aprender com esta crise.
Vamos começar a olhar o transporte mais de perto...
O setor de transporte, globalmente, é responsável por cerca de 16% das emissões dos gases do efeito estufa (GGE) incluindo aí o transporte rodoviário, marítimo, ferroviário, aéreo e de carros de passageiros.
Na Europa, esse percentual cresce, e o setor de transporte é responsável por 27% dos GGE. Nos Estados Unidos, esse percentual é ainda maior, e o setor de transporte responde por 29% dos GEE.
Nas cidades, este percentual de GEE gerado pelo setor de transporte, pode ser ainda maior, chegando a 40%.
Parece um pouco vago e distante, não é? Ok, vamos detalhar um pouco mais e entender como você está relacionado com estes números.
Veja abaixo distribuição da emissão de GGE por cada um dos meios de transporte, na Europa.
Figura 02 – Emissões de Gases do Efeito Estufa (GGE) no setor de transporte na Europa
FONTE: European Environment Agency (EEA) [5]
Quando, em função do lockdown e confinamento social causado pelo coronavírus, tivemos que ficar em casa, e carros de passeio e aviões pararam de circular, tivemos uma redução potencial de 57% (44% carros de passageiros + 13,3% aviões) de emissão dos GGE devido ao transporte. Por isso o céu das cidades ficou tão mais limpo. Entendeu agora?
Vamos entender agora como nossas escolhas de transporte estão relacionadas com o meio ambiente?
Toda vez que fazemos uma escolha pelo tipo de transporte que vamos utilizar, estamos contribuindo, mais ou menos, para a emissão de gases do efeito estufa. CO2 NOX, etc. Assim, vale a pena conhecer melhor os seus impactos e as alternativas que temos.
AVIÕES
Segundo dados da Agência Ambiental Europeia, a emissão de CO2 por cada passageiro é de 285g /km para uma aeronave média com capacidade para 88 passageiros. Para aviões maiores e viagens de longo curso, as emissões são menores, ficando em 170 g/ km de CO2 por passageiro.
Ou seja, em uma simples viagem entre Rio de Janeiro e São Paulo (430km) cada passageiro é responsável por 122,5 kg de CO2 lançados na atmosfera. Se for uma viagem de ida e volta, serão 245 kg de CO2 emitidos por passageiro (você!). Uma viagem internacional, entre Rio de Janeiro e Lisboa, por exemplo, pode representar uma emissão de 1.310 kg, de CO2. Se você for na 1ª classe vai gerar 3 vezes mais de emissões do que na classe econômica na sua viagem, pois seu assento ocupa um espaço 3 vezes maior do que na classe econômica.
A quantidade de CO2 varia em função do tipo do avião, de sua manutenção, mas também da quantidade de pousos e decolagens que o avião realiza. O gráfico abaixo apresenta as diferentes emissões por tipos de aviões.
O maior consumo de querosene de aviação e, portanto, de emissões de CO2 ocorre na decolagem e depois no pouso. Assim em trechos curtos, a emissão por cada 100 km é proporcionalmente maior do que em trechos longos.
O gráfico abaixo, publicado pelo site da Forbes, apresenta os países com maiores emissões de CO2 causadas por viagens aéreas.
Figura 03 – Maiores países emissores de CO2 causados por viagens áreas em 2018.
Fonte: Forbes [6]
ALTERNATIVAS PARA A REDUÇÃO DAS EMISSÕES DE CO2 NO SEU TRANSPORTE
Quais alternativas você tem, então, para reduzir as emissões de carbono em sua próxima viagem?
Se for uma viagem de trabalho, considere fazer a reunião por videoconferência. Muitas reuniões são curtas, com menos de 2 horas, e podem ser perfeitamente substituídas por uma videoconferência, sem prejuízos. Após a crise do coronavírus, como as pessoas já se acostumaram a trabalhar através de videoconferências, todo mundo passou a achar isso natural.
Quando disponível, o transporte ferroviário de longa distância é uma excelente opção. As emissões por passageiro são de 14g / km, o que representa uma redução de 95% de emissões de CO2, quando comparado com o transporte aéreo.
Outra opção, e isso vale para qualquer tipo de transporte, é a de plantar árvores! Cada árvore plantada irá, ao longo de sua vida, sequestrar cerca de 170kg de CO2 da atmosfera. Essa é a forma mais eficiente e barata de compensar as suas emissões de carbono.
Assim, por exemplo, para a sua viagem de ida e volta do Rio de Janeiro a São Paulo, você deveria plantar 1,5 árvore. Já em sua viagem para Lisboa, você deveria plantar 8 árvores para compensar as suas emissões de carbono. Se você não pode plantar suas próprias árvores, não se preocupe, existem diversos sites nos quais você pode neutralizar suas emissões de carbono através do pagamento para o plantio de árvores. Algumas companhias aéreas mais modernas, até já permitem que você pague uma taxa adicional na compra da passagem para a compensação de suas emissões de CO2.
Veja aqui como você pode plantar as suas próprias mudas de árvores para compensar suas emissões de carbono.
Na continuação deste artigo, vou falar um pouco das emissões no transporte urbano e mostrar o quanto você emite de CO2 no seu transporte diário para o trabalho e o que você pode fazer para reduzir também essas emissões.
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