o que é a crise climática?
O termo crise climática é um termo relativamente recente para descrever alterações climáticas causadas pelo homem (alterações antrópicas) capazes de desencadear fenômenos imprevisíveis e de consequências potencialmente catastróficas para a humanidade.
Esse termo surgiu como um desdobramento dos termos “mudanças climáticas” e “aquecimento global”, utilizados anteriormente para referir-se a alterações provocadas pelo homem, a fim de ressaltar a situação de urgência relacionada aos problemas climáticos e ambientais atuais que enfrentamos.
Mas como chegamos até aqui?
Para entendermos melhor a crise climática atual, teremos que retroceder um pouco no tempo e entender as causas envolvidas nas alterações climáticas, provocadas pela ação humana.
Vamos tentar entender um pouco melhor esses termos e como a humanidade contribuiu para esses fenômenos.
No início eram as árvores e as florestas
Um dos elementos mais importantes e abundantes na natureza é o carbono. Não somente na terra, mas também no Universo. O carbono é a base da matéria orgânica que compõem todos os seres vivos, mas existe também sob forma inorgânica, em rochas.
Em suas formas orgânica e inorgânica, ele compõe o Ciclo de Carbono, que é um dos ciclos que sustenta toda a vida sobre a terra.
Através dos processos de respiração dos seres vivos, decomposição da matéria orgânica e combustão (madeira, petróleo, carvão mineral, etc), o gás carbônico é lançado na atmosfera.
Através da fotossíntese realizado pelas plantas, algas e algumas bactérias, ele é retirado da atmosfera e fixado na matéria orgânica (biomassa).
Estes dois processos se equilibram e são responsáveis pela manutenção na vida na Terra.
Na fotossíntese o CO2 da atmosfera, junto com a água retirada do solo e a energia solar é transformado em açúcar (glicose) e oxigênio, sendo o açúcar a base para o crescimento dos vegetais.
Na respiração dos organismos, o açúcar e oxigênio são transformados em CO2, água e energia, necessária para a sua sobrevivência.
Isso pode ser melhor entendido nas equações abaixo:
Fotossíntese: CO2 + Água + Energia => Açúcar + Oxigênio
Respiração: Açúcar + Oxigênio => CO2 + Água + Energia
De forma simples, podemos lembrar que, plantas e algas retiram CO2 da atmosfera, através da fotossíntese. Animais se alimentam de vegetais. Animais, microrganismos e plantas (que também respiram) devolvem o CO2 para a atmosfera, através da respiração.
Se considerarmos apenas o carbono orgânico, seus estoques na natureza estão divididos nos ambientes, na seguinte proporção: 32,9% Terrestre, 1,2% Atmosfera, 65,8% Oceanos. Dessa relação é possível entender que o estoque de CO2 na Atmosfera, embora seja relativamente pequeno, é muito sensível a alterações do estoque de CO2 Terrestre e dos Oceanos.
As árvores desempenham um importante papel no ciclo de carbono. Através do processo de fotossíntese, elas são capazes de sequestrar dióxido de carbono (CO2) da atmosfera e fixa-lo em grande quantidade no seu lenho, na forma de açúcares. Cada árvore pode sequestrar cerca de 170kg a 200 kg de carbono da atmosfera por ano. Esse processo ocorre mais rapidamente em florestas tropicais, devido à sua velocidade de crescimento.
Então, em resumo, a madeira, é um grande reservatório de carbono, fixado na biomassa ao longo de anos. Se a madeira é queimada, esse carbono volta para a atmosfera, instantaneamente. Por outro lado, quando cortamos florestas, estamos eliminando a capacidade de sequestrar carbono da atmosfera pela fotossíntese. Daí a importância de se evitar as queimadas
Figura 1- Distribuição global da fotossíntese sobre mares e continentes
NOTA: Verde e vermelho apresentam a mais concentração de fotossíntese nos mares, pelos fitoplânctons. Verde escuro, representa a maior concentração de fotossíntese nos continentes, pelos vegetais.
Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Photosynthesis (NASA)
Os combustíveis fósseis
Ao longo de milhões de anos, arvores e florestas foram crescendo e morrendo, transformando-se em carvão mineral e também, parcialmente, em petróleo e gás natural. Estes três combustíveis, são chamados de combustíveis fósseis e são fontes de energia não renovável.
Através da combustão do carvão mineral, petróleo do gás natural, além da produção de grande quantidade de energia, útil ao homem, liberamos também grandes quantidades de carbono novamente para a atmosfera. O problema é que ao fazermos isso, liberamos de forma muito rápida, enormes quantidades de CO2 para atmosfera que havia sido sequestrado e fixado na matéria orgânica ao longo de milhões de anos pela natureza.
A partir da 1ª e 2ª Revolução Industrial o uso destes combustíveis fósseis se intensificou drasticamente, principalmente pelo seu uso na indústria. Desta forma, milhões de toneladas de carbono, que antes estavam imobilizadas no solo, voltaram à atmosfera. A partir desta época, também começou a aumentar a concentração de carbono na atmosfera.
Ou mesmo tempo a humanidade crescente, começou seu processo de urbanização e necessitava cada vez mais de madeira para suas construções, móveis e embarcações, mas também da lenha para cozinhar e se aquecer. Em consequência disso, houve, a partir do século 19, um intenso processo de desmatamento, que se intensificou muito após a 2ª Guerra Mundial.
Então, se por um lado a queima de combustíveis fósseis tenha lançado enormes quantidades de carbono na atmosfera, por outro lado o ser humano desmatou as florestas e degradou os ecossistemas, responsáveis por capturarem e fixarem o carbono na atmosfera na biomassa. Esse desequilíbrio fez com que com o tempo, cada vez mais, aumentasse a concentração de carbono na atmosfera.
A partir da década de 60 do século passado, cientistas começaram e medir a concentração de CO2 na atmosfera e verificaram que está vem aumentando ano a ano, como mostra o gráfico abaixo.
Figura 2- Médias mensais de concentração de carbono na atmosfera, medidos no Observatório de Mauna Loa – Havai
A distribuição da emissão de CO2 ao redor do mundo
Os países mais industrializados, do hemisfério norte, geram um volume substancialmente maior de emissões de CO2 do que os países em desenvolvimento do hemisfério sul. Nos países do hemisfério norte, principalmente no invernos, quando as plantas realizam menos fotossíntese e o consumo de combustíveis fósseis é maior, em função da necessidade de aquecimento de residências e prédios públicos, a concentração de CO2 aumenta significativamente (tons de vermelho).
O vídeo abaixo apresenta, em poucos minutos, uma impressionante visualização elaborada pela NASA, utilizando um modelo de computador como dados sobre a emissão de dióxido de carbono medidos na atmosfera ao longo de todo o ano de 2006.
A visualização mostra a distribuição de CO2 ao redor do mundo. As nuvens de dióxido de carbono na simulação se agitam e mudam à medida que os ventos dispersam o gás de efeito estufa para longe de suas fontes. A simulação também ilustra diferenças nos níveis de dióxido de carbono nos hemisférios norte e sul e variações nas concentrações globais de dióxido de carbono à medida que o ciclo de crescimento de plantas e árvores muda com as estações do ano.
A visualização foi produzida por cientistas do Escritório Global de Modelagem e Assimilação do NASA Goddard Space Flight Center. A visualização é um produto de uma simulação chamada “Nature Run”, utilizando supercomputadores. A NASA liberou essa versão atualizada e aprimorada para a comunidade científica pela primeira vez no outono de 2014.
O efeito estufa
Em 1824 um físico e matemático francês, Jean-Baptiste Fourier, formulou a primeira teoria sobre o efeito estufa, depois de observa o aumento da concentração de CO2 em estufas de plantas.
Em 1860, um cientista inglês, Jonh Tyndall, estudou a capacidade de absorção de calor (raios infravermelhos) dos gases presentes no ar. Ao medir a absorção de calor em diferentes gases, concluiu que o vapor d´’agua e o CO2 tinham grande influência sobre a absorção de calor da atmosfera. Isso o levou a propor a hipótese que as alterações climáticas acontecidas na pré-história e nas idades do gelo poderiam estar associadas à vários de CO2 da atmosfera.
Posteriormente, Svante Arenius, um químico sueco, em 1896, calculou que a duplicação a concentração de CO2 na atmosfera, levaria ao aumento da temperatura entre 5°C a 6°C.
A luz solar, ao incidir sobre o globo terrestre, penetra a atmosfera e é absorvida, em parte, pela superfície da terra, onde é responsável pela fotossíntese, mudanças das estações do ano, aquecimento natural da atmosfera, ventos, chuvas e uma enorme gama de processos biológicos e físicos que dependem da luz e do calor solar. A vida na Terra é totalmente dependente da luz solar.
Uma parte desta radiação (calor) que atinge a superfície da Terra, é refletida de volta para o espaço. Entretanto, com o aumento da concentração do CO2 na atmosfera, além de outros gases de efeito estufa, como Metano, Óxido Nitroso, Ozônio, Clorofluorcarbonetos e Hidrofluorcabonetos, (chamados de Gases do Efeito Estufa - GEE) este calor ao irradiar de volta da superfície da Terra para o espaço, fica retido na atmosfera, devido a capacidade que estes gases tem de refletir raios infravermelhos. Essa parte da radiação que é impedida de retornar ao espaço é que gera o aumento da temperatura da atmosfera.
Figura 3 - Gases do efeito estufa
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Efeito_estufa
O vapor d’agua também é também considerado um gás de efeito estufa e, com o aumento da temperatura da superfície da Terra, teremos também uma maior taxa de evaporação e o consequente aumento da umidade do ar.
O aquecimento global
Embora o efeito estufa natural seja importante para a vida na Terra, as alterações provocadas pelo homem, aumentaram em muito o teor de gases do efeito estufa na atmosfera, o que ocasionou o aumento da temperatura na atmosfera.
Figura 4 - Aumento da temperatura global (azul = médias anuais, vermelho = média 5 anos)
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Efeito_estufa (NASA)
O vídeo abaixo, mostra as anomalias climáticas em 192 países e foi produzido por Antti Lipponen, pesquisador do Instituto Meteorológico da Finlândia, a partir de dados fornecido pela NASA. O gráfico reúne dados de anomalias climáticas entre 1880 e 2017, mostrando o aumento das temperaturas ocorrido nas últimas décadas e todos os países, em alguns casos superior a 2,0 °C.
A urgência da crise climática e o ponto de não retorno
As alterações climáticas provocadas pelo aquecimento atmosférico são responsáveis por diversas alterações ambientais, como por exemplo o degelo de geleiras e calotas polares, aumento do nível dos mares, acidificação dos oceanos e consequente morte de recifes de corais, redução de biodiversidade, alterações da flora, extremos climáticos como secas e enchentes, bem como outras crises colaterais, com efeitos sobre os humanos, como escassez de água, perda de colheitas, insegurança alimentar, fome, migrações, instabilidades sociais, guerras e inundação de cidades costeiras.
O termo “crise climática” surge então, não somente pelo agravamento das alterações climáticas, mas também pela inércia e incapacidade dos governos e das sociedades em responderem com ações concretas a uma emergência que ameaça o futuro da humanidade.